Encarando a verdade

O médico e a família podem esconder um diagnóstico de uma pessoa? Saber da gravidade e dos riscos podem condenar um paciente?

Dr. Gabriel Rissoli Ramos

10/28/20232 min read

Nós que trabalhamos na área da saúde, especialmente certas especialidades, muitas vezes nos deparamos com pacientes cujos diagnósticos são graves e o prognóstico, a evolução que devemos esperar dessa doença, são pessimistas, sendo muito provável um desfecho ruim, quer dizer, com a morte daquela pessoa!

Esse tipo de caso divide até mesmo médicos(as) e outros profissionais da saúde. Afinal, devemos... ou podemos, esconder um diagnóstico e informações para o principal envolvido?

A questão é: Como podemos proteger melhor essa pessoa?

Já deixo clara minha opinião: É NECESSÁRIO que tudo fique claro para o paciente, quando esse está com sua consciência e faculdades mentais preservadas... Mas ainda assim, é sim POSSÍVEL entregar a verdade para uma pessoa, sem deixar de entregar junto ESPERANÇA, sem a qual se torna impossível vencer batalhas. Mais do que possível, é ESSENCIAL!

Muitos acreditam que esconder verdades dolorosas permite o paciente manter forças para a luta contra a doença, enquanto mantém conforto durante o período que podem ser seus últimos momentos com vida... Por outro lado, quando nos deparamos com uma grande probabilidade de que a doença seja incurável e que a pessoa possa morrer, a quem cabe decidir como esses meses ou até semanas finais devam ser vivenciados?

Há pessoas que podem optar vender todos os seus bens e viajar pelo mundo! Outras podem escolher distribui-los de forma bem consciente para seus herdeiros... Aliás, quais herdeiros? Muitas pessoas tem filhos não reconhecidos formalmente, mas podem resolver deixar para os últimos instantes a decisão por um contato ou até mesmo um reconhecimento perante outros familiares.

Há aqueles que tiveram amores mal resolvidos por toda a vida e que nesses possíveis momentos finais, podem desejar repaginar e deixar uma impressão final.

Em suma, quero dizer que cada pessoa tem histórias de vida, sonhos e questões mal resolvidas, muitas vezes bem únicas e individuais, as quais o conhecimento de uma possibilidade real de morte podem cristalizar decisões que mudem o sentido de suas próprias vidas e a vida de incontáveis pessoas ao seu redor!

A morte será uma realidade para todos, portanto todos devemos encará-la de frente todos os dias, mas com ainda mais consciência quando tão cara-a-cara. Quem sabe não seja justamente sua realidade que defina o sentido de nossas vidas?

Porém, quero deixar bem claro: A vontade e liberdade de cada paciente devem ser respeitadas, ainda que elas se manifestem através de seus parentes, ainda que se manifeste de forma indireta. Por isso, a decisão da forma como abordar realidades tão delicadas em momentos tão críticos, envolve sempre um diálogo franco com a pessoa e seus familiares e uma grande sensibilidade dos médicos envolvidos, sem a qual não é possível tomar as decisões acertadas.

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